domingo, 27 de março de 2011

Diálogos de Sexta-Feira

Sexta-feira passada foi um dia rico em diálogos estranhos...

Logo pela manhã, tocam à campainha lá em baixo, eu atendo, e dá-se o diálogo:
– Bom dia! Nós somos das obras, e queremos saber se aquele carro que está ali à direita é seu?
Respirei fundo, e com toda a paciência que consegui arranjar, respondi:
– Não sei qual é a sua direita... que carro é?
– Não sei bem... acho que é um Fiat... é um carro esquisito...
Mais uma vez respirei fundo: – O meu carro está estacionado perto do caixote de lixo… será esse?
– É esse mesmo… Precisamos que o tire do sítio para trabalharmos, se faz favor.
Bem… não sei se me senti mais ofendida por chamarem o meu Toyota de esquisito ou por o confundirem com um Fiat, mas lá fui eu tirar o carro para os homens (Sabem? Aquelas criaturas que costumam dizer que percebem de carros) trabalharem…

Mais tarde, já no trabalho, lá para o fim da manhã, recebo uma chamada de uma amiga de Lisboa, que já não via há um mês:
– Olá! Quando é que chegas?
Bem, agora com o doutoramento, costumo ir todas as sextas para a capital, mas nessa não iria… e também não tinha marcado nada com ninguém. Respondi:
– Oh, querida… hoje não vou.
Ela, indignada, retruca:
– Já me podias ter dito antes, não?
Lá reuni calma outra vez, e disse-lhe: – Mas eu não marquei nada contigo hoje.
Ela, confusa, pergunta então: – Mas com quem é que estou a falar?
– Com a Etã – respondi, já percebendo o que se estava a passar.
– Ah, não era para ti que eu queria ligar… está tudo bem contigo?

Para completar, à tarde, atendo, junto com o meu coleguinha Miguel, uma família na CPCJ. O filho, um adolescente, estava a faltar às aulas, a desobedecer o padrasto e a reclamar de maus-tratos. O casal tinha ainda outra criança em idade pré-escolar em casa, fruto dessa união. Depois de desvendado todo o “mistério” da situação, vamos aprofundando as questões sobre habitação e meio de subsistência da família, e ficamos a saber:
– A culpa do menino estar assim é toda da Assistente Social. Cortou-nos os subsídios todos e a minha mulher foi obrigada a ir trabalhar com aqueles horários absurdos (9h30-15h30 e 18h30-22h30) que ela já lhes falou.
Miguel e eu nos entreolhamos, e eu respondi:
– Mas trabalhar é importante. Há muitas mães que trabalham. E o senhor, não conseguiu ainda trabalho? Qual a sua profissão?
– Eu sou pintor. Só consegui um trabalho que pagava pouco… 20 euros por dia. Assim, prefiro ficar em casa…
Na minha ingenuidade, ainda tentei argumentar:
– Mas isso é melhor do que nada, é preciso começar por algum lado…
– E com quem deixo as crianças? Sim, porque tenho duas crianças em casa! – Apressou-se a retrucar o senhor.
Continuei, ingénua:
– E os demais pais que trabalham? A pequena pode ficar na creche, por exemplo. As creches têm preços de acordo com os rendimentos das famílias.
– E quem paga?
Realmente… esses Assistentes Sociais são terríveis! Acabam com a felicidade das pessoas…

Há dias assim...

1 comentário:

  1. Achei os dois primeiros diálogos normalíssimos, o estranho mesmo foi confundirem um Toyota com um Fiat!!!!!! E ainda por cima um homem!!!!! Enfim...

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