quinta-feira, 11 de junho de 2009

Escolaridade obrigatória?

Não tenho acompanhado as últimas notícias sobre o tema (nem sei se houveram novos desenvolvimentos desde então), mas quando o Sr. Eng. Sócrates anunciou no congresso do PS, a intenção de tornar a escolaridade obrigatória até ao 12º ano, e disse que a maneira de o conseguir será através da concessão de bolsas de estudo aos alunos mais pobres com idade compreendidas entre os 15 e os 18 anos de idade, fiquei um tanto assustada.
Isto porque, ao reflectir sobre o actual sistema de ensino, chego à conclusão de que muito chão temos para andar antes de complicarmos as coisas ainda mais.
Ora vejamos: o ensino pré-escolar anda na corda bamba, e os alunos que o frequentam vão pouco ou nada preparados para o ensino primário; este tem regras cujo entendimento ultrapassam os limites do razoável (com alunos que concluem o 1º ano sem saber ler nem escrever - porque não tiveram grande preparação ou outra qualquer razão - e passam para o 2º ano - só para acompanhar o grupo turma - onde vão enfrentar uma classe que está a aprender conteúdos que eles nem sonham existir, e onde o(a) professor(a) não lhes vai dar a atenção necessária - nem a que certamente gostaria, dificultando ainda mais a sua aprendizagem); o ensino a nível do 2º ciclo, do 3º e do secundário também apresenta as suas lacunas, com a possibilidade de passar alunos com notas negativas a várias disciplinas importantes; e o ensino superior acabou de sofrer modificações severas, sendo encurtado (talvez um dia eu ainda comente isso aqui). Isto para não falar das taxas de insucesso e de abandono escolar, e dos problemas entre os professores de todos os níveis de ensino e as suas respectivas tutelas.
Apesar de concordar que o acesso à escola pode vir a ser uma possibilidade de distinção entre as pessoas, uma forma de proporcionar aos jovens maiores recursos pessoais e profissionais (socialização, conhecimentos etc.), de forma a ajudá-los a enfrentar de maneira mais eficaz o mundo que os rodeia, não posso deixar de ficar preocupada com a ideia de se "obrigar" esses mesmos jovens a fazerem algo que não querem.
Até porque, ninguém pode ser obrigado a aprender (princípio básico de qualquer lição de pedagogia). E, creio eu, mais relevante do que ser obrigado a frequentar a escola até aos 18 anos de idade, é aprender enquanto se frequenta a escola, já que a ideia central da frequência escolar não é apenas "andar por lá", mas sim adquirir os conhecimentos considerados adequados a cada ciclo de estudos.
Obrigar quem não quer estudar a frequentar a escola até aos 18 anos de idade é, talvez (e sem exagero), uma forma de introduzir no ambiente escolar mais tristeza, mais mágoa, falta de disciplina e, até, violência (como se não bastasse a que já temos).
Jovens com 16, 17 e 18 anos que não querem estudar deveriam ser incentivados a trabalhar, e oferecer-lhes uma bolsa de estudo para fazerem o que não gostam parece-me constituir-se numa ofensa aos que querem estudar e esforçam-se para isso, apesar das muitas dificuldades que também possam enfrentar.
Pena que no meio de tudo isso, o que conte mesmo sejam os números: a redução do índice de desempregados no país (se esses jovens que não querem estudar estiverem a frequentar o ensino já não serão desempregados), o aumento da taxa de conclusão do secundário, entre outros.
Para mim, o certo seria investir na qualidade das escolas e no acesso a elas, ao mesmo tempo que se criam as condições para que as famílias e os jovens percebam a importância da educação e nela invistam. Demora mais tempo, mas obtém-se os mesmos desejados números. Tenho a certeza!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Tempo de barulho

Nem sempre o que dizemos encerra o que queremos dizer. Na verdade, e a mais das vezes, o que não dizemos (ou o que calamos) reflecte muito do que queremos expressar.
De facto, para opinar não é necessário chamar a atenção de tudo e de todos em voz alta.
Não estou a falar de opiniões gratuitas (do tipo falar só para não ficar calado), mas de opiniões reflectidas, com conhecimento. Estou a falar de opiniões sobre os acontecimentos que, directa ou indirectamente, afectam o nosso dia-a-dia e ajudam a mudar o rumo da nossa "caminhada".
Sendo assim, será o barulho o oposto do silêncio? Não creio... Até porque há imenso barulho no silêncio!
Uma das coisas fantásticas da suposta democracia em que vivemos é a liberdade de expressão. Através desse direito podemos exercer o nosso dever de participar activamente da nossa sociedade.
Mas será que o fazemos com consciência e em prol de valores realmente importantes? Será que as nossas opiniões estão a ajudar a construir e a fazer alguma diferença à nossa volta?