sábado, 28 de fevereiro de 2009

Visita poética

Noutro dia, recebi (ou melhor, o blogue recebeu) a visita de um poeta (José António Cavalcanti) lá do outro lado do oceano. Não o conheço, nem aos seus escritos, mas retribuí a visita (e a simpatia), e encontrei algumas coisas interessantes:

Porque te amo?
Não há respostas.
Meu amor é um míssil.
Secreta ogiva segreda
inaudíveis palavras de amor.
Infelizmente
você não acciona o controle remoto.
Disparo meu último foguete.
Acciono o pavio,
porém você não detona.
Então, amor, afundo
e não volto à tona.

Para Creuza
(...)
O poema pode não mudar o mundo,
mas ilumina o caminho do homem.

Nau sem rumo
Não preciso de cartas de navegação:
basta-me o sonho de travessias impossíveis.
(...)

Acho que vale a pena conferir:

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Rachel Getting Married

Pelos vistos estou numa fase “cinema”, porque o grande ecrã tem atraído bastante a minha atenção ultimamente.
Ontem à noite fui com o meu filhote ver O Casamento de Rachel. Ele não gostou, mas eu não sou da mesma opinião.
O Casamento de Rachel” é um drama dirigido por Jonathan Demme (de O Silêncio dos Inocentes), gravado com uma aparência de filme independente, como se o espectador lá estivesse de câmera na mão. A trilha sonora vem dos músicos que ensaiam para o casamento que dá nome ao filme.
O enredo mostra Kym (Anne Hathaway, que está simplesmente brilhante e verdadeira na sua actuação), uma jovem toxicodependente, que consegue uma dispensa do seu internamento clínico, para assistir ao casamento da irmã. À chegada, encontra uma recepção ríspida, carregada de fantasmas do passado.
Repleto de traumas e conflitos familiares, o filme mostra uma família que se ama e se odeia ao mesmo tempo, mas com capacidade para superar os seus problemas em benefício de todos.
Não se pode dizer que seja o filme do ano (certamente não é para todos os gostos), mas, não sendo original na trama, acaba por prender a atenção, ao mostrar a dificuldade de amar e de ser amado, de pedir desculpas e de perdoar, de conviver com fraquezas e frustrações e seguir em frente, apesar disso.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Quem quer ser bilionário?

Hoje fui sozinha ao cinema! Nunca tinha feito isso, mas todas as pessoas que eu conheço (e que me poderiam acompanhar) já tinham visto o filme que eu queria, então lá fui eu, após o trabalho. Para não variar, como a sessão era cedo (fui à das 17h10), a sala estava quase vazia (havia somente um casal além de mim). Comprei a minha pipoquinha e o meu Sumol de laranja (que eu não gosto, mas eles não vendem nada melhor), e me instalei numa cadeira qualquer (tinha muito por onde escolher).
Fui ver o “Quem quer ser bilionário?” (título português) ou "Slumdog Millionaire" (título original), de Danny Boyle.
O filme conta a história de Jamal Malik, um órfão de 18 anos dos subúrbios de Mumbai que, apenas a uma pergunta de ganhar os incríveis vinte milhões de rupias (cerca de 300 mil euros) da versão indiana do concurso “Quem quer ser milionário”, é denunciado à polícia pelo apresentador do programa, por suspeita de fraude. Na esquadra, Jamal conta à polícia a história da sua vida nas ruas, e as suas aventuras para reencontrar a rapariga que ama desde criança.
Jamal vive uma vida simples, é honesto e íntegro numa Índia violenta e infernal, onde os maus-tratos a menores são o prato do dia de bandidos sem escrúpulos que dominam a cidade (qualquer semelhança com outras realidades de outros países... não é mera coincidência).
No entanto, Jamal não se interessa por dinheiro. Então, o que estará a fazer no programa? E como consegue acertar tudo, se não tem estudos? Será o destino?
Achei incrivelmente fantástico este enredo, que demonstra como o ser humano consegue captar (e perceber) o mundo à sua volta, a maneira como pode aprender (e como pode sofrer para o fazer) e, finalmente, para que serve esta aprendizagem (que não depende, necessariamente, da escola formal, mas da escola da vida). Eu recomendo!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Troca

No último fim-de-semana fui a Lisboa e aproveitei para ir ao cinema com o meu filhote. Fomos ver um filme que ainda não havia chegado a Viseu: A Troca, realizado por Clint Eastwood, e com Angelina Jolie como actriz principal. Narra a história verídica de uma mãe que se despede do filho antes de ir para o trabalho e, na volta, descobre que a criança desapareceu. A mãe desesperada inicia, então, uma busca imparável, enfrentando polícias corruptos e um sistema que tenta, a todo o custo, calar a sua voz. Um filme íntegro, tecnicamente bem realizado, uma história chocante, mas, apesar das passagens fortes que em outra película poderiam causar lágrimas, nesta provoca pouca emoção. De qualquer forma, valeu o tempo gasto!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O adolescente míope

Adolescência... Quem não se lembra da sua? Confusão, descoberta, emoções, preocupações... Seja como for, cada um tem uma história, a sua história, um percurso interessante e, certamente, digno de ser narrado.
Hoje presenciei uma narrativa de alguns percursos adolescentes. Poderiam ser os percursos de qualquer um, mas era o do bailarino e coreógrafo romeno, Romulus Neagu, o do actor e encenador inglês, Graeme Pulleyn, e o do músico e compositor português, Luís Pedro Madeira. Com música interpretada ao vivo, o espectáculo "A partir do adolescente míope", que estreou no Teatro Viriato, em Viseu, constrói-se em volta da misteriosa relação entre o ser humano e o livro, o acto de escrever, o prazer de ler e a obrigação de estudar.
Trata-se de um olhar e de um reviver das adolescências dos artistas, com base no encontro entre a reflexão pessoal e a (re)descoberta da obra literária O Romance do Adolescente Míope, de Mircea Eliade, um jovem autor que escreveu o seu primeiro romance aos 17 anos.
Num cenário simples e solitário, o espectáculo concentra-se, sobretudo, na necessidade de cada um procurar a sua voz, descobrir o que precisa de dizer e como consegue dizer (através dos livros, da dança, do teatro, da música, da ciência, do desporto etc.). E esse "grupo" soube dizer muito bem. Eles cantam, dançam, correm, discutem, leem... mas principalmente, transmitem as suas histórias de uma forma muito particular.
Deixo aqui o meu agradecimento ao Romulus, que teve a gentileza de me convidar para o ver mais uma vez em palco. Amei!!!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Pomba-Gira

No início do mês postei o meu desacordo com o Acordo Ortográfico, e falei das expressões regionais que nunca poderão ser iguais, visto fazerem parte da identidade de cada povo. Expliquei que é isso que faz a diferença entre o português falado no Brasil e o português de Portugal, e não uma meia dúzia de palavras escritas de forma diferente.
Sábado passado estive a apresentar uma comunicação no Congresso Luso-Brasileiro de Psicologia da Saúde, em Faro, no Algarve, e vi uma cena caricata e engraçada que não podia deixar de relatar aqui, visto ilustrar perfeitamente o que eu disse anteriormente.
Estava um grupo de meninas pertencentes à organização do congresso (aquelas pessoas que apoiam o funcionamento de cada mesa, ligam os computadores, verificam se está tudo a correr bem) sentado num dos corredores de acesso às salas, quando o coordenador de uma das mesas aproximou-se delas.
Era um senhor brasileiro com os seus 50 e tal anos, bastante simpático, que foi prontamente aclamado por todas as meninas com muito entusiasmo (uma delas até, em tom de acolhimento, cantou: “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...”). Ele, não querendo ficar para trás nos elogios, retrucou: “Aqui estão as minhas belas periquitinhas!”
Elas estavam visivelmente divertidas com a conversa e, para ajudar à festa, começaram a dizer que eram umas pombinhas. Visto o assunto caminhar para o quesito “beleza”, completaram: “somos umas pombinhas giras” (para quem não está familiarizado com a palavra, gira, em Portugal, significa bonita). O brasileiro sai-se, então, com a seguinte frase: “Pombas-Giras, não! Deus me livre!” – e afastou-se lentamente do grupo.
É que Pomba-Gira, no Brasil, é um Exu-Fémea (espírito que se incorpora nos médiuns, uma entidade que trabalha na Umbanda). A Umbanda é uma crença formada dentro da cultura religiosa brasileira, que reúne vários elementos, inclusive de outras religiões como o catolicismo, o espiritismo e religiões afro-brasileiras.
Para o grupo todo, ficou um mal-entendido ou um não-entendido, que levaria algum tempo para ser explicado. Elas ficaram sem perceber o “Deus me livre” do senhor... e ele, certamente, não entendeu o “Pombas-Giras” proferido pelas raparigas.
Para mim, que assistia a cena de fora, foi uma situação interessantíssima. Simplesmente demais!
Acham que dá para uniformizar isso? Impossível! E viva a diferença!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Meu vício, o Café

Noutro dia, num jogo quebra-gelo feito num workshop em que participei, pediram-nos que nos apresentássemos, dizendo o nome, a profissão, o signo e um vício. Assim, de repente, pensar (e confessar) um vício, não é fácil, e acabei por dizer “café”, mas pensando bem, posso dizer que é mesmo. Constantemente perco a conta do número de cafés diários que bebo, e o efeito sentido resume-se a um só: prazer!
No Brasil, eu costumava beber café de saco (aquele coado). A quantidade também era grande, mas há uma diferença entre lá e cá. Em Portugal, quando se pede um café, servem-nos sempre o café expresso (ou bica, como também é conhecido), bem mais forte e encorpado.
Assim, e desde que saí do “meu país”, adquiri o hábito do expresso de manhã, a seguir ao almoço, a seguir ao jantar, a meio da tarde, ao fim da tarde (etc., etc.), ainda em Moçambique, naqueles vários cafés espalhados pela Av. 24 de Julho, onde eu me obrigava a parar sempre que podia.
É engraçada essa coisa do hábito. Uma vez adquirido, sentimos falta quando não encontramos do mesmo.
Agora já não aprecio, infelizmente, o café servido no Brasil (excepto o que bebo em casa da minha mãe, claro!). Em Espanha, se se quer beber um bom expresso... bem, ainda não encontrei um bom expresso em Espanha porque, invariavelmente, o que nos servem por lá é uma “banheira” de água com um pó preto. Em França, dentro do meu francês inexistente, aprendi a pedir um expresso “très serré” para ter qualquer coisa parecida com a bica portuguesa, do contrário, também receberia uma banheira (caríssima, por sinal) de água e pó preto.
Por falar em bica, esse termo é a inicial da expressão "Beber Isto Com Açúcar", tendo surgido em Lisboa, quando o café expresso começou a ser comercializado, num café localizado no Chiado, denominado "A Brasileira". Ocorreu que o sabor do café era pouco agradável ao paladar, uma vez que os lisboetas não misturavam açúcar ao preparado, pelo que foi criado o slogan Beber Isto Com Açúcar, para os esclarecer. O termo teve tanto sucesso, que acabou por ficar até aos nossos dias.
Por outro lado, no Porto, o costume é pedir um cimbalino, como referência a La Cimbali, uma popular marca de máquinas de fazer café expresso.
Expresso, Bica, Cimbalino, ou somente Café (seja como for), assumo publicamente: é um "vício" bem bom!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Saudades de Moçambique

Falar do Mia Couto fez-me lembrar dos belos (embora poucos) anos que passei em África. Foram poucos, mas bons, como se costuma dizer.
Por incrível que pareça, não fui para lá com grandes expectativas. Achava mesmo que não ia gostar nada daquilo (afinal, o Oceano Índico não tem a cor do Atlântico) mas, felizmente, tudo correu diferente do que eu supunha e... amei!
De facto, África será sempre África! E o que quer isso dizer? Quer dizer que aquela terra será sempre boa, será sempre bela, será sempre acolhedora. E como me acolheu bem!
Aquele povo é simples, humilde, feliz... de tal forma, que às vezes indagamos: “como podem ser felizes com tanta pobreza, com tanta miséria?”. E a resposta está bem à vista e é tão óbvia (principalmente para alguém que veio do Brasil) que até nos envergonhamos da pergunta: é simplesmente porque o verdadeiro tesouro, a verdadeira riqueza, não está nos valores materiais e nos bens que um povo possui... está nas lições que ele sabe ensinar. E a África “sabe” disso...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Mia Couto

Tal como prometido no post anterior, hoje vou falar do Mia.
António Emílio Leite Couto, um dos escritores moçambicanos mais conhecidos no estrangeiro, nasceu na Beira, em 1955. Ganhou o nome Mia do irmão mais novo, que não conseguia dizer Emílio. “Reza a lenda” que o escritor adoptou esta alcunha também devido a sua paixão pelos gatos desde pequeno, tendo inclusive dito à sua família que gostaria de ser um deles (verdade ou não, quem gosta de gatos, tem a minha admiração!).
Segundo a sua biografia, Mia teria dito certa vez que não tinha uma “terra-mãe”, mas sim uma “água-mãe”. Referia-se à tendência para a sua terra natal, situada à beira do Oceano Índico, ficar inundada durante a época das chuvas.
Mia Couto iniciou o curso de Medicina ao mesmo tempo que começava a fazer jornalismo, tendo abandonado aquele curso para se dedicar à profissão. Foi director da Agência de Informação de Moçambique e, mais tarde, tirou o curso de Biologia.
Vencedor de vários prémios, tem a sua obra traduzida em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, neerlandês, norueguês e sueco.
Pessoalmente, a sua simpatia, humildade e simplicidade não deixam as pessoas indiferentes.
No dia 7 de Março de 2005, fez uma oração de sapiência, na abertura do ano lectivo do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique. Do texto, destaca-se a mensagem “Os Sete Sapatos Sujos”, que transcrevo pela beleza da lição:
“Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei ‘Sete Sapatos Sujos’ que necessitamos de deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher, e sete é um número mágico:
Primeiro – A ideia de que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas;
Segundo – A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho;
Terceiro – O preconceito de que quem critica é um inimigo;
Quarto – A ideia de que mudar as palavras muda a realidade;
Quinto – A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;
Sexto – A passividade perante a injustiça;
Sétimo – A ideia de que, para sermos modernos, temos que imitar os outros.”

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O outro pé da sereia

Como gosto de partilhar o que faço e o que me encanta com os amigos, volto a falar de literatura. Estou a acabar de ler mais uma obra de Mia Couto (noutro dia falo melhor sobre ele aqui): O outro pé da sereia.
Este romance narra várias viagens, entre elas a de um missionário português que pretende converter o continente africano, a de uma jovem que quer regressar à infância e a de um casal de afro-americanos que busca um lugar encantado. Numa mistura entre presente e passado, mais uma vez o meu escritor africano favorito prende a atenção do leitor com uma história encantadora, cheia de sonhos e de realidades, repleta de lições (históricas, sócio-políticas, de vida).
Deixo dois trechos interessantes (para aguçar a vossa vontade de ler):
“A melhor maneira de fugir é ficar parado. Lição que o burriqueiro Zero Madzero aprendera com a imbabala, a gazela dos matos densos. É a fuga da presa que engrandece o caçador. O ficar imóvel é o mais astuto modo de enfrentar o predador: deixar de ter dimensão, converter-se em areia no deserto. Desaparecer para fazer o outro extinguir-se.
A melhor maneira de mentir é ficar calado. Lição que o burriqueiro não aprendera com ninguém. O silêncio não é ausência de fala, é o dizer-se tudo sem nenhuma palavra.” (p. 20)
“Os outros passam a escrita a limpo. Eu passo a escrita a sujo. Como os rios que se lavam em encardidas águas. Os outros têm caligrafia, eu tenho sotaque. O sotaque da terra.” (Epígrafe do capítulo XVI, p.271)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

(Des)acordo!

Fala-se muito (mais ainda desde o ano passado) sobre a Nova (Velha) Reforma Ortográfica, mas ainda não percebi as vantagens disso. Aliás, acho que ninguém percebeu. Talvez porque ninguém até agora tenha dado uma explicação plausível para se gastar tempo com uma coisa que não está estragada e que, portanto, não necessita de reforma alguma. Mas tudo bem... Parece que no Brasil a coisa vai pegar mais rápido que cá, mas tudo indica que, no final, Portugal também vai aderir ao Acordo.
Ponham-se na minha situação! Vim para fora do Brasil há mais de dez anos, vivendo sempre em países que falam o português e, durante esse tempo, tive que mudar a grafia que utilizava (ato, fato, contato, adotar, ótimo, idéia, correto, objeção, direção, objetivo, afeto, entre outras palavras), passando a escrever de outra forma (acto, facto, contacto, adoptar, óptimo, ideia, correcto, objecção, direcção, objectivo, afecto). Não foi fácil adaptar, além de ter sido um processo moroso. Agora, sem mais nem menos, querem que eu volte a escrever como dantes? Ora essa... era o que faltava!
Falando mais a sério (e dificuldades particulares à parte), na minha opinião, o Acordo é totalmente inútil! Trará custos que acabarão por ser bem superiores aos benefícios (se é que os há). Gramáticas novas, dicionários novos, livros novos... e para quê?
Aparentemente, tudo foi elaborado em nome de uma suposta unificação. Unificação esta, completamente desnecessária, já que a essência da língua está (e continuará a estar) toda lá, quer se adopte (ou quer se adote) ou não, uma nova grafia. Não há alterações nisso, na essência. E, no fundo, é isso que interessa.
Ler um texto escrito em português do Brasil ou em português de Portugal será sempre igual, visto que os regionalismos continuarão a existir, a utilização do gerúndio será sempre maior lá que cá, a concordância e a aplicação do pronome continuarão diferentes.
O mercado editorial de ambos os países nunca esteve em baixo por causa dessas pequenas diferenças, pois um livro publicado em Portugal sempre pôde ser vendido no Brasil (o meu o é, por exemplo), e vice-versa.
As diferenças que, eventualmente, poderão causar alguma dificuldade na interpretação, são as de ordem vocabular, nunca de grafia. Muitas palavras que no Brasil e em Portugal têm significados diferentes, permanecerão no vocabulário de cada país depois de entrar em vigor o Acordo (por exemplo: rotatória e rotunda; celular e telemóvel; presunto e fiambre; terno e fato; água sanitária e lixívia; pedestre e peão; aposentado e reformado; camisola e camisa de noite; calcinha e cueca; e várias outras). Então para que complicar?!
Por mais que eu procure, não encontro mesmo qualquer justificação para essas mudanças de grafia. Em nome de uma unificação, o que se vai fazer é criar instabilidade, sem se conseguir unificar nada. Defende-se que “apenas” 0,43% do vocabulário brasileiro, e 1,42% do português, serão afectados. A meu ver, não se trata de quantidade, mas de qualidade. O que interessa é que essa inconsequência (ou inconseqüência) vai causar mais confusão do que se imagina (na minha humilde opinião, claro!).