domingo, 21 de novembro de 2010

Outono





Por ser a estação das flores chamam a Primavera de estação das cores…. Mas já viram quantas cores trazem o Outono? É divinamente lindo! As árvores pintam-se de amarelos, laranjas, castanhos e vermelhos… as folhas caem formando um tapete espesso… a chuva (miúda, muitas vezes graúda) ajuda a dar o tom de melancolia… uma melancolia boa, suave… Nas ruas, o cheiro das castanhas a assar em cada esquina relembra-nos que chegou a estação das folhas, das vindimas, do início das aulas para a criançada, do frio e do vento forte. Chegou a hora de sentar em frente da lareira, com uma manta quentinha, um bom livro e um copo de vinho tinto e… viajar! E, no meio disso tudo, ainda tem o “Verão de São Martinho”… com o sol a quebrar os dias frios. Nunca o sol é tão bem vindo como no Outono!

sábado, 20 de março de 2010

Los Olvidados

O filme que deu a Buñuel, em 1950, o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes, foi exibido no passado dia 16 pelo Cine Clube de Viseu. Eles pediram que eu fosse fazer o tradicional comentário no final. Logo eu, que nada entendo de cinema! Mas acho que cumpri o meu papel, porque na verdade fui lá na qualidade de responsável por um Lar de Infância e Juventude da cidade e, portanto, na qualidade de alguém que percebe qualquer coisa sobre “os esquecidos”…
De facto, Buñuel, já naquela época, demonstrava uma extraordinária visão crítica sobre o abandono infantil, sobre o descaso dos adultos frente à injustiça que atira crianças inocentes para as ruas e para a desesperança. Ele já abordava e questionava o Estado em si, que deixa os mais indefesos (e a quem deveria proteger) viverem na mais completa tristeza e desolação.
“Los Olvidados” retrata os desamparados pelo mundo dos adultos que, preocupados em impor a lei e a disciplina, negam-lhes amor, carinho, afecto e compaixão.
No filme, o menino Pedro se envolve com os rufias liderados por “El Jaibo” que, para vingar-se de quem supostamente o entregou à polícia, assassina Julian, um jovem arrimo de família que tem que lidar diariamente com um pai alcoólico. A fim de conquistar o amor da mãe, Pedro emprega-se como aprendiz de ferreiro, mas é acusado de um roubo que não cometeu e vai para o reformatório (a escola-granja).
Pedro admite não ser um bom rapaz, afirma que deseja mudar, mas não sabe como. Os seus actos são pautados pelos impulsos, pelos desejos e pelas emoções, como na cena em que, com raiva e desconhecendo o motivo, mata umas galinhas à paulada.
Em “Los Olvidados”, quase todos os adultos são personagens ausentes, frios ou maus: a mãe de Pedro, que o odeia e que o chama de vagabundo; o pai de Ojitos, que o abandona à própria sorte na feira; os pais que Jaibo nunca conheceu; o avô surdo de Metche, mais zeloso com os animais do que com a neta; o pedófilo que aborda Pedro em frente à montra da loja; o velho cego que escraviza Ojitos, assedia Metche e provoca a morte de Jaibo.
Interessante o papel do director do reformatório e do juiz que tenta fazer a mãe de Pedro perceber que era sua responsabilidade cuidar do filho, dar-lhe amor e compreendê-lo, actos que provavelmente evitariam a sua institucionalização.
O filme começa por projectar (mesmo almejar) um futuro que possa dar respostas às perguntas que ele faz. Um futuro onde os seres humanos encontrem alternativas para as situações descritas na película. Situações estas vividas nas ruas da Cidade do México, mas que se poderiam passar em Paris, New York, São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, ou mesmo Viseu.
Algumas coisas mudaram desde então, mas não me parece ainda de todo suficiente!

domingo, 7 de março de 2010

Le Jardin

“Le Jardin”, do Atelier Lefeuvre e André (França), um espectáculo de destrezas circences (acrobacia, malabarismo e magia), recheado de humor (mas sem palavras), e carregado de luz, sombras e poesia (sentida através das expressões faciais dos artistas), esteve na passada sexta-feira no Teatro Viriato.
“Le Jardin” é uma (história?) que serve para meditar sobre o ser humano.
Através de um duelo, que decorre dentro de uma grande estufa, dois jardineiros passam o tempo a tentar mostrar quem é o melhor, numa alusão ao humor visual, onde se destaca a agilidade física dos intérpretes, e a criatividade com que utilizam objectos simples de jardinagem (como duas pás usadas como degraus de escada) para fazer rir.
Outro que valeu a pena!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Ruas da Amargura

O documentário de Rui Simões, exibido este mês (dia 9) pelo Cine Clube de Viseu, e que contou com a presença do realizador para um pequeno debate no fim, trata de questões sociais importantes vividas nas ruas de Lisboa. Questões como o alcoolismo e a toxicodependência, a prostituição e a falta de teto para morar, a busca de um lugar melhor para construir a vida, as carências afectivas e financeiras de gente como a gente, que simplesmente quer viver e ser feliz.
Trata também de outras gentes... as que estão dispostas a ajudar e a acreditar em dias melhores, as que mesmo diante de tanta amargura não desistem de dar de si por uma causa que, à partida, parece perdida.
Um excelente olhar sobre uma realidade que muitos tentam ignorar e, até, esconder. Valeu o tempo passado na sala fria do IPJ!

Amarelo Manga

O projecto liderado por dois pernambucanos (de Recife), a cantora Lilian Raquel e o guitarrista Cláudio César Ribeiro, foi apresentado hoje na Fnac (Viseu), e eu que não os conhecia fiquei encantada! Os originais "Aonde ela me levar", "Verso preso" e "A promessa" fazem uma pessoa viajar... e mostram que a música popular brasileira é uma fonte inesgotável de surpresa e prazer.

Contos em Viagem

Contos em Viagem - Brasil, Outras Rotas é mais uma "aventura" da companhia portuguesa Teatro Meridional, que foi apresentada no palco do Teatro Viriato no final de semana e a que fui assistir ontem. A rota tem como pano de fundo o Rio São Francisco (o velho Chico), que atravessa cinco estados brasileiros: Minas, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.
De textos escolhidos de escritores nascidos naqueles estados (Adélia Prado, Afonso Romano de Sant'Ana, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, João Guimarães Rosa, João Ubaldo Ribeiro, Jorge Amado, Lêdo Ivo e Mauro Mota), construiu-se essa produção, com música produzida em palco (pelo português António Pedro), que nos faz viajar verdadeiramente pelos costumes das gentes, pela geografia dos lugares, pelas paisagens e pelas personagens que se vão "encontrando" ao longo da espectacular performance da brasileira Gina Tocchetto.
Senti-me em casa!

Vai-se Andando

Esta comédia, que no passado dia 19 fui ver no Teatro Viriato, fala de Portugal e dos portugueses, das suas mais patéticas características, das suas manias e trejeitos, dos seus preconceitos e do seu conformismo, num monólogo interessante de José Pedro Gomes, apenas interrompido por alguns protestos (sob a forma de cacarejo) do enorme galo de Barcelos (um dos símbolos nacionais) insuflável que o acompanha em palco.
Vai-se andando é uma expressão comum, utilizada como resposta nas mais variadas situações em Portugal, e esta comédia explora todas elas... da sexualidade ao clima, passando pela comida, o modo de comer ("a capacidade enfardadora de uma beleia") e o trabalho.
O texto, escrito por diferentes nomes do humor português (Eduardo Madeira, Luísa Costa Gomes, Marco Horácio, Nilton, Nuno Markl, Filipe Homem Fonseca, Henrique Dias e Nuno Artur Silva), é uma autocrítica inteligente que cria cenários fantasiosos (e, talvez, possíveis?) como o de Portugal transformado numa estância turística dirigida pelo Presidente Bolinha, após uma reflexão sobre a ineficácia da colonização, a importância da miscigenação e a influência dos "novos portugueses" no futuro.
É riso garantido do princípio ao fim!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

35 Rhums

Acabo de chegar de mais uma sessão do Cine Clube de Viseu. Em cartaz estava uma produção francesa, uma história sobre pessoas, sobre vidas simples, sobre o amor, o medo do futuro e da ausência do outro, sobre o sentimento de dependência e, principalmente, sobre a angústia da mudança nas diferentes fases normativas da vida.
O filme baseia-se na relação entre um pai e uma filha. Ele é Lionel, um maquinista honesto, mas tristonho, que depois da morte prematura da mulher dedicou a vida a cuidar da filha, Josephine, uma estudante universitária.
A relação que os une é assente no respeito e na cumplicidade e, apesar de parecer que não precisam de ninguém, partilham o seu pequeno mundo com dois vizinhos (uma ex-namorada apaixonada por Lionel, e um rapaz órfão e solitário apaixonado por Josephine), que moram no mesmo prédio nos subúrbios de Paris, e acabam por viver como uma família.
As cenas são centradas no quotidiano. A melhor, na minha opinião, é efectuada sem diálogos, apenas com música. Retrata uma noite chuvosa quando os protagonistas vão a um concerto, o carro avaria antes de chegarem, e eles entram num café, onde são bem acolhidos pela proprietária e passam bons momentos a dançar e a interagir sem palavras.
No entanto, senti que apesar da intensidade do que se queria transmitir e das interpretações especialmente boas (sem qualquer dúvida), o filme deixa um tanto a desejar, não suscitando grande emoção nem quando Lionel encontra o colega dos caminhos-de-ferro que se tinha acabado de suicidar.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Jazz no Teatro

O Foyer do Teatro Viriato de Viseu recebeu na quarta-feira, dia 13 de Janeiro, o Trio Luís Figueiredo. O líder do colectivo, pianista que se tem dedicado ao jazz, fez-se acompanhar de dois experientes e notáveis músicos portugueses: Nélson Cascais (contrabaixo) e Bruno Pedroso (bateria). Juntos, deram um espectáculo deveras agradável e fácil de ouvir. Amei!

Welcome

As sessões do Cine Clube de Viseu continuam a acontecer todas as terças-feiras no auditório do IPJ.
No passado dia 12, fui lá conferir uma delas.
Confesso que fui porque a sessão era uma parceria com a REAPN e porque o Zé Machado me convidou, mas fiquei 100% satisfeita.
O filme? Welcome, um filme francês (de Philippe Lioret) de 2009, premiado na Europa e que retrata a questão da imigração de uma maneira bastante tocante e real.
É a história de Bilal, 17 anos, que deixou o Iraque depois de a sua namorada ter emigrado para o Reino Unido. Vive uma viagem aventureira a pé pela Europa só para a voltar a ver. No Norte de França, a caminhada chega abruptamente ao fim, porque ele é descoberto a tentar viajar clandestinamente para a Inglaterra dentro de um camião. Bilal e Mina estão separados pelo Canal da Mancha – o mais movimentado do mundo. O jovem então conhece um nadador que, actualmente, é professor de natação (Simon) na piscina local, onde ele passa a treinar com o objectivo de passar o Canal. Simon queria impressionar a ex-mulher, mostrando que tem valores e que se preocupa com os outros, mas acaba por se envolver realmente com o rapaz e ajuda-o até onde pode.
Um filme intenso, profundo, real (mais do que muitos pensam). Trata de justiça, de direitos humanos, de humanidade. Vale mesmo a pena!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Touradas de guarda-chuva, estacionamento distorcido e outras questões sérias

Há uma coisa que me incomoda há muito tempo, mas neste novo ano resolvi falar dela. Não sei o que se passa com as pessoas, mas quanto mais se fala em cidadania, em respeito pelo próximo, em civilidade, menos eu vejo isso. O ser humano está a perder valores importantes, sem os quais, certamente, caminharemos para uma grande desordem.
Ora vejamos exemplos simples como cuspir para o chão, deitar papel fora do caixote de lixo, permitir que a sujeira feita pelo animal de estimação fique exposta na calçada para alguém pisar, parar em segunda fila atrapalhando o trânsito, entre outros, fazem com que a sociedade demonstre que cada vez menos se está a preocupar com o próximo.
Mas hoje quero falar concretamente de duas situações que me incomodaram e incomodam bastante nos últimos tempos:
Estamos em pleno inverno e o guarda-chuva é peça essencial da indumentária de quem anda a pé, mas o problema é que as pessoas não sabem andar com o guarda-chuva aberto. As ruas de Viseu são estreitas, as calçadas são pequenas e, normalmente, quando vejo um guarda-chuva a vir na minha direcção, desvio-me para o lado, levanto o meu próprio guarda-chuva (se a pessoa for mais baixa que eu) ou inclino o instrumento para o lado menos ocupado da calçada (se se trata de alguém mais alto), enfim... faço a minha parte. E o que eu encontro? Não sei, mas o cenário que isso me faz lembrar são touros enfurecidos. As pessoas abaixam os seus guarda-chuvas, como que a proteger o rosto e enfrentam a multidão de outros guarda-chuvas como se de uma guerra se tratasse, batem, empurram e não pedem desculpas... enfim, não há o mínimo respeito e cuidado!
E os estacionamentos? Na frente do meu prédio, os carros estacionam em espinha, e mesmo assim, os lugares escasseiam. Até aí tudo bem, não fosse um vizinho (ainda não descobri quem é) que invariavelmente para o seu carro em espinha invertida, ocupando dois, e às vezes três lugares de estacionamento. E muitas vezes deixa lá o carro dias inteiros. O que lhe passará pela cabeça? Onde ele acha que está para tornar-se "dono" da rua desta maneira? Onde andará o civismo, o respeito pelo próximo?
Já experimentaram ir a um centro comercial às vésperas do Natal? Eu já, e não recomendo isso a ninguém. São carros a mais, pessoas a mais, consumo a mais (isso merece outro post)... Mas estacionar no centro comercial nessas alturas é mesmo uma questão complicada, especialmente quando um carro ocupa o lugar de dois e pessoas não-deficientes ocupam o lugar reservado aos deficientes. E cá voltamos outra vez a interrogar-nos sobre onde andará o civismo deste povo?
Quem tiver a resposta, por favor, manifeste-se!