sábado, 20 de março de 2010

Los Olvidados

O filme que deu a Buñuel, em 1950, o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes, foi exibido no passado dia 16 pelo Cine Clube de Viseu. Eles pediram que eu fosse fazer o tradicional comentário no final. Logo eu, que nada entendo de cinema! Mas acho que cumpri o meu papel, porque na verdade fui lá na qualidade de responsável por um Lar de Infância e Juventude da cidade e, portanto, na qualidade de alguém que percebe qualquer coisa sobre “os esquecidos”…
De facto, Buñuel, já naquela época, demonstrava uma extraordinária visão crítica sobre o abandono infantil, sobre o descaso dos adultos frente à injustiça que atira crianças inocentes para as ruas e para a desesperança. Ele já abordava e questionava o Estado em si, que deixa os mais indefesos (e a quem deveria proteger) viverem na mais completa tristeza e desolação.
“Los Olvidados” retrata os desamparados pelo mundo dos adultos que, preocupados em impor a lei e a disciplina, negam-lhes amor, carinho, afecto e compaixão.
No filme, o menino Pedro se envolve com os rufias liderados por “El Jaibo” que, para vingar-se de quem supostamente o entregou à polícia, assassina Julian, um jovem arrimo de família que tem que lidar diariamente com um pai alcoólico. A fim de conquistar o amor da mãe, Pedro emprega-se como aprendiz de ferreiro, mas é acusado de um roubo que não cometeu e vai para o reformatório (a escola-granja).
Pedro admite não ser um bom rapaz, afirma que deseja mudar, mas não sabe como. Os seus actos são pautados pelos impulsos, pelos desejos e pelas emoções, como na cena em que, com raiva e desconhecendo o motivo, mata umas galinhas à paulada.
Em “Los Olvidados”, quase todos os adultos são personagens ausentes, frios ou maus: a mãe de Pedro, que o odeia e que o chama de vagabundo; o pai de Ojitos, que o abandona à própria sorte na feira; os pais que Jaibo nunca conheceu; o avô surdo de Metche, mais zeloso com os animais do que com a neta; o pedófilo que aborda Pedro em frente à montra da loja; o velho cego que escraviza Ojitos, assedia Metche e provoca a morte de Jaibo.
Interessante o papel do director do reformatório e do juiz que tenta fazer a mãe de Pedro perceber que era sua responsabilidade cuidar do filho, dar-lhe amor e compreendê-lo, actos que provavelmente evitariam a sua institucionalização.
O filme começa por projectar (mesmo almejar) um futuro que possa dar respostas às perguntas que ele faz. Um futuro onde os seres humanos encontrem alternativas para as situações descritas na película. Situações estas vividas nas ruas da Cidade do México, mas que se poderiam passar em Paris, New York, São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, ou mesmo Viseu.
Algumas coisas mudaram desde então, mas não me parece ainda de todo suficiente!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Olá, amigo ou amiga do Etã Sobal Olhares! Deixe aqui a sua opinião... terei imenso prazer em ler e publicar! Obrigada.