segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O outro pé da sereia

Como gosto de partilhar o que faço e o que me encanta com os amigos, volto a falar de literatura. Estou a acabar de ler mais uma obra de Mia Couto (noutro dia falo melhor sobre ele aqui): O outro pé da sereia.
Este romance narra várias viagens, entre elas a de um missionário português que pretende converter o continente africano, a de uma jovem que quer regressar à infância e a de um casal de afro-americanos que busca um lugar encantado. Numa mistura entre presente e passado, mais uma vez o meu escritor africano favorito prende a atenção do leitor com uma história encantadora, cheia de sonhos e de realidades, repleta de lições (históricas, sócio-políticas, de vida).
Deixo dois trechos interessantes (para aguçar a vossa vontade de ler):
“A melhor maneira de fugir é ficar parado. Lição que o burriqueiro Zero Madzero aprendera com a imbabala, a gazela dos matos densos. É a fuga da presa que engrandece o caçador. O ficar imóvel é o mais astuto modo de enfrentar o predador: deixar de ter dimensão, converter-se em areia no deserto. Desaparecer para fazer o outro extinguir-se.
A melhor maneira de mentir é ficar calado. Lição que o burriqueiro não aprendera com ninguém. O silêncio não é ausência de fala, é o dizer-se tudo sem nenhuma palavra.” (p. 20)
“Os outros passam a escrita a limpo. Eu passo a escrita a sujo. Como os rios que se lavam em encardidas águas. Os outros têm caligrafia, eu tenho sotaque. O sotaque da terra.” (Epígrafe do capítulo XVI, p.271)

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