domingo, 1 de fevereiro de 2009

(Des)acordo!

Fala-se muito (mais ainda desde o ano passado) sobre a Nova (Velha) Reforma Ortográfica, mas ainda não percebi as vantagens disso. Aliás, acho que ninguém percebeu. Talvez porque ninguém até agora tenha dado uma explicação plausível para se gastar tempo com uma coisa que não está estragada e que, portanto, não necessita de reforma alguma. Mas tudo bem... Parece que no Brasil a coisa vai pegar mais rápido que cá, mas tudo indica que, no final, Portugal também vai aderir ao Acordo.
Ponham-se na minha situação! Vim para fora do Brasil há mais de dez anos, vivendo sempre em países que falam o português e, durante esse tempo, tive que mudar a grafia que utilizava (ato, fato, contato, adotar, ótimo, idéia, correto, objeção, direção, objetivo, afeto, entre outras palavras), passando a escrever de outra forma (acto, facto, contacto, adoptar, óptimo, ideia, correcto, objecção, direcção, objectivo, afecto). Não foi fácil adaptar, além de ter sido um processo moroso. Agora, sem mais nem menos, querem que eu volte a escrever como dantes? Ora essa... era o que faltava!
Falando mais a sério (e dificuldades particulares à parte), na minha opinião, o Acordo é totalmente inútil! Trará custos que acabarão por ser bem superiores aos benefícios (se é que os há). Gramáticas novas, dicionários novos, livros novos... e para quê?
Aparentemente, tudo foi elaborado em nome de uma suposta unificação. Unificação esta, completamente desnecessária, já que a essência da língua está (e continuará a estar) toda lá, quer se adopte (ou quer se adote) ou não, uma nova grafia. Não há alterações nisso, na essência. E, no fundo, é isso que interessa.
Ler um texto escrito em português do Brasil ou em português de Portugal será sempre igual, visto que os regionalismos continuarão a existir, a utilização do gerúndio será sempre maior lá que cá, a concordância e a aplicação do pronome continuarão diferentes.
O mercado editorial de ambos os países nunca esteve em baixo por causa dessas pequenas diferenças, pois um livro publicado em Portugal sempre pôde ser vendido no Brasil (o meu o é, por exemplo), e vice-versa.
As diferenças que, eventualmente, poderão causar alguma dificuldade na interpretação, são as de ordem vocabular, nunca de grafia. Muitas palavras que no Brasil e em Portugal têm significados diferentes, permanecerão no vocabulário de cada país depois de entrar em vigor o Acordo (por exemplo: rotatória e rotunda; celular e telemóvel; presunto e fiambre; terno e fato; água sanitária e lixívia; pedestre e peão; aposentado e reformado; camisola e camisa de noite; calcinha e cueca; e várias outras). Então para que complicar?!
Por mais que eu procure, não encontro mesmo qualquer justificação para essas mudanças de grafia. Em nome de uma unificação, o que se vai fazer é criar instabilidade, sem se conseguir unificar nada. Defende-se que “apenas” 0,43% do vocabulário brasileiro, e 1,42% do português, serão afectados. A meu ver, não se trata de quantidade, mas de qualidade. O que interessa é que essa inconsequência (ou inconseqüência) vai causar mais confusão do que se imagina (na minha humilde opinião, claro!).

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